domingo, 14 de abril de 2013

L'amor che move il sole e l'altre stelle.

J.L,

Eu só queria te fazer ver que a eternidade é pouco pra nós dois, que o Tempo faz pouco de nós dois.
Você ainda não vê que o amor não é algo que possa existir no tempo? Ele só existe no Empíreo, no paraíso de Dante, naqueles três círculos concêntricos onde já não existe mais matéria. Onde não existe nada além do amor que move o sol e as outras estrelas. Era pra lá que eu queria te levar, se você aceitasse meu convite, um lugar onde o tempo não poderia nos alcançar. Eu só queria que você segurasse minha mão e não a soltasse jamais, "eu só queria" um milhão e meio de pedidos onde cada uma deles incluiria eu, você e uma certeza. Eu só queria certezas. Eu só queria imperativos e sua mão -- aquela mesma mão que segurou minha vida dois anos atrás embaixo das estrelas. Eu só queria um sim, você, mas não meio você, não uma parte de você, eu queria tudo aquilo que é você. Eu queria amor da cabeça aos pés. Eu queria algo que é muito pouco pro "agora" me dar, que é muito pouco pro tempo me dar -- mas é demais pro tempo me tirar. Eu queria te fazer compreender minha urgência no pra sempre, minha vida flutuante no presente. O presente não me abarca por inteira. O meu amor não cabe num período de tempo, numa parte da vida. Eu só queria verdadeiramente ser compreendida, eu só queria respostas, letras, palavras. Eu só queria você, só queria que você quisesse ser meu e que não fosse mais nada além disso. Eu só queria que você me quisesse sua.

domingo, 30 de dezembro de 2012

O Evangelho Segundo J.C.

Sentiam-se muito próximos, apesar da distância física de 2.449 quilômetros previamente já estabelecida entre os dois, Eu sinto sua falta, ela disse, Lembremos de nosso Bach, Que, Eu já estou com você, Eu já estou sentindo.

sábado, 8 de setembro de 2012

Yelda da minha janela

Quando fiquei mais velho, li nos meus livros de poesia que a yelda era a noite sem estrelas em que aqueles que sofrem por amor permanecem acordados, suportando a escuridão interminável e esperando que o nascer do sol traga consigo a pessoa amada. Depois que conheci Soraya Taheri, todas as noites da semana passaram a ser (noites de) Yelda para mim. O Caçador de Pipas


Da minha janela, o céu a noite é um tapete preto bem simples. Sem os brilhantes azuis que ornam outros tapetes pretos pelo mundo. Um tapete preto sem graça e sem fim, de um infinito intrigante. 
Algumas noites eu permaneço acordada, assustada pelo tapete preto, esperando ele ir embora. Eu espero por tanto tempo, mas ele continua ali, imóvel, sem intenção de ir a lugar nenhum. 
O ponto é... Eu quero a luz de volta sabe? A luz do dia, da vida. Eu não quero aquele tapete sem graça, sem luz, sem vida. 
Eu quero o Sol, a Lua e as Estrelas, eu quero tudo junto na minha janela. 
Depois de várias noites sem dormir esperando o tapete preto ir embora eu comecei a pensar que talvez ele nunca fosse sair dali, talvez a vida fosse continuar assim daqui pra frente. Talvez a vida tivesse virado um tapete preto sem fim, e eu, sem aceitar, jamais deixasse a minha janela.

499 dias com ele



Eu desaprendi a me expressar utilizando palavras, mas acredito ainda ser muito boa em me expressar utilizando de animais. Os animais são criaturas perfeitas, as obra-primas de Deus e você bem deve saber disso. Alguns deles pesam toneladas, medem dezenas de metros de altura e leva-se muito tempo para se gestar um animal desse porte. Vários levam 365 dias de gestação, alguns 440, outros poucos mais de 500... Muitos animais não tão grandes, mas nem por isso menos perfeitos se formam mais rapidamente, em 200, 100, 60 e até mesmo 30 dias. Em 30 dias um coelho perfeito nasce do útero da mãe e em 499 dias essa mãe poderia ter dado a luz a 16 ninhadas perfeitas de coelhos. Em 499 dias uma baleia poderia ter nascido. Uma orca, um camelo, uma girafa, 3 ursos pandas gigantes... 5 leões e 5 tigres. 1 zebra, 1 cavalo, 1 búfalo, 2 cangurus, 1 lhama, 1 leão-marinho, 1 golfinho, 1 gorila, 5 ovelhas, 2 ursos polares, 2 veados, 1 anta, 8 cachorrinhos e 8 gatinhos. Um macaco.
499 dias só não seria o suficiente para nascer 1 rinoceronte e 1 elefante, de todos os mamíferos existentes, só 2 espécies não teriam visto a luz do dia nesse tempo.
Eu ia escrever tudo isso pra dizer que 499 dias é tempo demais, depois mudei de ideia e vi que é absolutamente pouco e então mudei de ideia uma terceira vez. Tanto faz se é muito ou pouco, o que importa é que 499 dias é um tempo que não dá pra simplesmente ignorar ou apagar da sua memória.

(Infelizmente)

sexta-feira, 4 de maio de 2012

Eu ando de cabeça baixa que é pra não ver seu rosto em todos os rostos que por mim passarem, que é pra eu não deixar meu coraçãozinho aflito. 
Eu ando de cabeça baixa que é pro mundo não ver minhas lágrimas, pois eles não as entenderão.
Eu ando de cabeça baixa que é pra não correr o risco de cruzar meus olhos despreparados com outros olhares, que é pra não deixar os outros conhecerem minhas fraquezas.
Perceba, meu amor, que eu ando de cabeça baixa que é porque não me faltam os motivos. 
Eu ando de cabeça baixa porque o mundo é cruel e eu prefiro fechar meus olhos. 
Eu ando de cabeça baixa que é pra ninguém me notar, que eu prefiro ser invisível, pra pensarem que não podem se aproximar.

Eu ando de cabeça baixa que é porque eu sinto vergonha de quem eu sou, do que eu fiz, e de quem não está mais ao meu lado.

Quase um segundo (só que não mais)

Lembra como algumas vezes eu te dizia que te odiava por quase um segundo e depois te amava mais?

Bom, agora eu só te odeio. (O tempo todo)

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Q,

Eu não sei dizer exatamente de onde começa a sensação. Algumas vezes dá a impressão que começou com um arrepio gelado que nasceu na minha espinha. Outras que começou mesmo na ponta do estômago amargo. Seja lá de onde surja, tudo acontece muito rápido e simultaneamente à petrificação do meu coração. 
É tudo bem gelado. Gelado, duro, cortante... Dilacerante. Nesses momentos eu sinto um anseio louco de expelir meu coração pra fora de mim, a fim de duas coisas. A primeira delas é o sentimento de auto-preservação - aquele que a gente sente quando tem medo de morrer. No meu caso é morrer de hipotermia. Medo do gelo do meu coração espalhar muito rapidamente pro restante vivo de mim e da minha espinha padecer, dos meus órgãos falharem. Numa tentativa de voltar a sentir qualquer centelha de calor tento expurgar meu coração, mas as tentativas se mostraram vãs. Outro motivo muito forte que me faz querer rasgar meu próprio peito é o desejo de te presentear com meu coração petrificado. Te encontrar e dizer: toma! Tá vendo essa alma congelada? Vê esse coração que cessou de bater, essas veias que secaram? Esse corpo que nenhuma gota de sangue corre? Toma tudo e guarda, fica, esconde, leva pra longe de mim. 
Esconde de mim esse gelo porque agora eu só quero sentir calor.



(Eu queria dizer que não. Não, eu não quero que um belo dia quando você estiver caminhando apareça uma pedra no seu caminho e você tropece, caia e bata a cabeça. Não, eu não quero que ao bater a cabeça você sinta uma dor tão forte, mas tão forte, que te torne incapaz de viver um único dia sem se lembrar da dor. Isso só serve pra ilustrar o que eu sinto e não consigo esquecer. Não, eu não consigo esquecer e sua presença não consegue parar de me fazer lembrar. Na realidade, eu só queria que você sumisse, desaparecesse e levasse consigo essa dor. Só queria me libertar desse frio na espinha e voltar a sentir calor. Me livrar do nó de lágrimas na garganta, da explosão que transborda pelos olhos. Tudo aquilo que me fez enxergar que eu sou muito humana, ao contrário de você que é feito de metal.)

quarta-feira, 14 de março de 2012

Ƭarik,

Depois que o vento se aliou às flores já não sei mais como fugir do seu cheiro de alecrim projetado dos meus sonhos em forma de luz. Luzes que saíram das mãos de um anjo, cujo nome disse ser Miguel, para enfeitiçar-me o sono e esquecer-me do dia, das horas, da vida. Esquecer-me que a vida não é uma nuvem de sonhos, que os sonhos não estão limitados a um período restrito de tempo diário.
Não, para Miguel não. O proibido agora é acordar.
O presente se tornou apenas uma emanação fluídica semi leitosa do meu futuro, que é o presente que agora vivo. (Pois um sonho é sempre futuro) E o passado é só a marca do lápis que permanece na folha depois que a borracha cumpre seu papel. Uma marca que só mostra que algo já existiu ali, mas que é impossível de ser resgatada. O futuro que devaneio agora são nuvens com gosto de algodão doce, olhos de ciclone, de furacão, de tsunami.
E é assim que me sinto, diminuída a um fragmento de pétala perto da fúria desses Deuses. Passível de ser quebrada, apagada de onde vivo em um instante imperceptível. Não, Miguel, não quero me quebrar.
Me ponho com medo de dormir e com medo de acordar. Nenhum dos dois trará minha estrela da manhã. Ao acordar posso descobrir que talvez ele só virá com meus olhos fechados.

Percebo que é melhor continuar sonhando, ou vivendo com os olhos bem fechados:
 Eu só não quero ficar sem Ƭarik.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O trânsito e Seu João

Hoje o dia parecia diferente para Seu João. O céu estava cinza, assim como seus olhos, seus cabelos, sua pele e sua vida. Em dias cinzas as horas passam em camera lenta, é o que deve ter pensado João.
Seu João já estava trabalhando às seis horas da manhã quando pensou em sua filha. Quais seriam a cor de seus olhos? Ele não poderia dizer. Mal tinha memórias pra recordar enquanto dirigia.
Acredite se quiser, mas um dia Seu João também já foi feliz. Um dia ele já teve sonhos!
Dizia ele, "quando eu crescer quero ser jogador de futebol". E não é que Seu João tinha talento? 
Claro que ter talento fica em segundo plano quando se tem uma família pra sustentar: Seu João era o próprio estereótipo do trabalhador humilde brasileiro até no nome.
Só que não hoje.
Hoje Seu João já tinha se esgotado da vida, já tinha esvaído de seu corpo.
Nesse momento Seu João não suportava mais dirigir para pessoas que não se incomodavam em dizer "bom dia" ou "obrigado". Essas mesmas pessoas que não demoravam um instante para perguntar "passa lá na rua 12?", "me avisa quando tiver na 14?". E claro que Seu João sempre avisava.
Até hoje.
O ponto é: não eram essas pessoas que controlavam a vida de Seu João. Na realidade, Seu João estava  bem confiante de que o fundamental aqui era ele. Afinal, ele tinha a vida de todas essas pessoas nas mãos, em suas mãos. E ninguém parecia se dar conta disso.
Alguém buzinou para Seu João às seis e meia da manhã o alertando que o trânsito havia voltado a andar depois de trinta minutos de espera. Ele já tinha esperado demais. Seu João deu seta e virou à esquerda. Aquela rua não fazia parte de sua rota, mas ele não queria mais seguir rotas por hoje. 
No final da manhã, uma notícia provou a todos que Seu João estava certo. 
"Caminhão que carregava líquido inflamável colide nessa manhã com ônibus que tinha se desviado de sua rota. Todos os envolvidos foram mortos em uma grande explosão. Os motorista dos dois veículos foram identificados como 'Seu João'".

domingo, 12 de fevereiro de 2012

MÄN SOM HATAR KVINNOR

Fico imaginando o que poderá ter acontecido em seu passado que te transformou no que é agora... Começo a me perguntar se eu estaria ao seu lado se conhecesse sua história palavra por palavra.
Enxergo que nada mudaria então, pois eu já te vejo como você é, e já te via desde a primeira vez que nos vimos, antes mesmo de nos falarmos.

(I do know your history word-for-word, somehow.)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Hideki,

Já perdi a noção do tempo desde que comecei a tentar traduzir os raios que emanam do seu sol para esse pedaço de papel.

Insisto na ideia de desenhar os dois universos que moram no seu rosto. (se me utilizasse de uma máquina, esta não seria capaz de compreender a grandeza daquilo que se encontra a sua frente). Nos meus devaneios não vejo apenas suas constelações, mas sinto o cheiro das flores de jasmin e escuto os carcarás gritando. Queria conseguir uma grande planeta e chamá-lo de Meu, Grande Planeta Meu. Dentro dele morariam os beija-flores, bem-te-vi, carcarás e um buquê de flores. (as flores só serviriam para enfeitar nosso céu, pois você seria a fragância no Meu Mundo). Escolho agora a melodia que quero que a chuva toque ao se derramar no solo e me lembro do dia em que te vi sorrir - uma estrela saiu do seu sorriso e se apresentou pra mim - disse que se chamava Música.

Minha tentativa é vã, seguro em minhas mãos nada além de uma mancha amarela que só na música de Toquinho pode virar Sol.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Ontem eu descobri que a causa dos meus problemas foi parar de rezar, hoje me chamaram pra rezar e eu fui dormir.

acho que eu escolho problemas, afinal, o que me restaria sem eles?
eu sinto falta da caneta no papel, mas a mente vai atrás daquilo que primeiro se encontra ao alcance das mãos.

o que não me impede de continuar sentindo falta.