quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Passado, Presente, Particípio.

"Ao menos leve uma certeza: você me deixa doído, mas não me deixará doido, porque isso sou, isso já sou!"

Você acha que ainda te resta algum controle? Experimenta levantar daí, acha mesmo que ainda consegue? Já faz muito tempo que você perdeu isso. Perdeu tudo, ou qualquer coisa, porque nem sei se algum dia você teve algo. Você se perdeu de você, querida. Pensa bem, quando foi a última vez que fez algo para sua alma sorrir? Não adianta mentir pra mim, eu estive aqui acompanhando tudo de pertinho, menina, nunca confiei que você conseguiria se virar bem sozinha. Pára! Ficar parada você consegue? 
Quando foi que deixou o medo te dominar dessa forma, hein? Não é possível que você não tivesse visto isso começando acontecer, porque, sabe, todo mundo viu. Até parece que você gosta de ver as pessoas sentindo pena de você. Pena te deixa melhor? Porque se for ajudar, eu tenho muita por você.
Não tenho nem mais vocabulário de adjetivos pra você. Estou falando há dez minutos e você nada! Você parada! Você você! Nada do que eu te falei te afetou? Eu já estou ficando contagiada com o seu medo! Aliás, já estou é ficando cansada disso, isso pra mim é mimo, manha, afinal, medo de quê? Do bicho papão? Menina, reage, menina! Fala alguma coisa!
Acho que morreu... Acho que fiquei esse tempo todo falando sozinha, acho que demorei demais pra tentar fazer alguma coisa, acho que já era tarde demais, acho que a culpa é minha, acho que fui eu, acho que acho. Antes dela ser eu sou. Antes de ser ela, é a mim. Antes de ser eu, sou ela.



"E no mais, /tudo na mais /perfeita paz. /
Sendo que eu assumo isso mesmo /quando se diz que já acabou, /ainda quero morrer de amor."


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

seu olhar, seu olhar...



"O seu olhar me olha/ o seu olhar é seu/ o seu olhar melhora/ melhora o meu"



Ela tinha se cansado da forma como as pessoas a olhavam sempre que descobriam sobre ele. A forma como as pessoas começavam a julgá-la sem nem se preocuparem em disfarçar.
Até a própria mãe! Não que essa última parte fosse algum tipo de surpresa para ela (longe disso!), mas não deixava de doer os ouvidos aqueles absurdos que sua própria mãe proferia em frente a todos que quisessem ouvir.
Só que de repente, mesmo sabendo que opinião alheia não tem serventia nenhuma, senão confundir e atrapalhar a vida das pessoas, não fugindo da praxe, milhões de perguntas sem respostas começaram a atrapalhar seus sonos que nunca existiram de verdade, nem antes, nem depois dele.
Por que? Por que ele? Por que JUSTO ele?
Ela sabia que não encontraria resposta satisfatória pra nenhum por quê dela, pois sabia que simplesmente não existiam.
Na verdade, todos deviam estar certos, devia ser mesmo muito doente, afinal, se ela estava tão certa de que não era por patologia, porque não podia argumentar? Porque não encontrava a prova que asseguraria a todos sua sanidade? "Aqui está meu motivo, meu atestado para sobriedade e desmistificação da loucura.", mas não teria isso.
E o mais misterioso: porque mesmo sabendo e aceitando que era doentio, estagnado e não-evolutivo, ainda assim, o desejava em sua banheira? Queria dançar com ele mesmo que a odiasse por isso?
Queria vê-lo todos os dias, inventar historinhas, sua cama estava vazia, seu cheiro a agradava, seu abraço encaixava, sua teimosia incitava...

E se ela conseguiu um por quê satisfatório pra isso?
Não, mas acreditou que o seu olhar era o começo.


Escrito em 08/julho/2010, e depois disso, ela perdeu todas essas crenças, toda essa paixão, todos esses sonhos de vida cor-de-rosa recheados com um drama adolescente pra não perder a graça. Conseguiu fazer a única coisa que sempre soube fazer bem: quebrar e destruir as coisas, e o afastou até perdê-lo. Mas não fez isso inconsciente, fez propositalmente, pois alegria é luxo demais pra ela, e tudo o que ela anseia, luta para perder. E uma coisa eu te garanto: conhecendo-a como eu conheço, não há batalha nenhuma no mundo perdida por ela.
E isso tudo é pra você, Q., porque se eu fosse inteligente eu te daria muitos mais posts por aqui, aliás, eu ofereceria todos à você, que é o ÚNICO digno deles, mas eu sou burra de mais pra perceber, e criança-birrenta-invariável demais pra algum dia mudar de ideia, mas espero que você pelo menos goste dos textos que um dia eu escrevi pensando somente em você e em mais nada.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Nos poços

Primeiro você cai num amor. Mas não é ruim cair num amor assim de repente? No começo é. Mas você começa a curtir a textura do amor. O gosto do amor. O cheiro do amor. A dança do amor. O ar do amor. A melodia do amor. A ideia do amor. O amor do amor. Mas não é rum a gente ir entrando nos amores dos amores sem fim? A gente não sente medo? A gente sente um pouco de medo mas não dói. A gente não morre? A gente morre um pouco em cada amor. E não dói? Amar dói, mas morrer é entrar noutra. E depois: no fundo do amor do amor do amor do amor do amor você não irá descobrir quê.

O nascimento de Amor


Mais rápido do que teve tempo para assimilar o que acontecera, ele surgiu dentro dela. E, antes de ter tempo para descobrir o por quê, ela ja ficou feliz pela sua existência.
Por noves meses ela o nutriu e dividiu tudo com ele. Não existia mais individualidade, exclusividade, privilégio, luxo. Cada ação o envolveria em conjunto, nem sua comida era só dela, nem o respirar era só dela.
Ser não era mais só dela.
Até o dia em que os nove meses se passaram e o Amor respirou sozinho, comeu sozinho, andou sozinho, tomou vida sozinho. Sempre sob a proteção dela.
Era uma criança muito hiperativa, cresceu muito rápido, foi ficando muito forte, estava sempre correndo pelas ruas de seu bairro. Na verdade, ele nunca foi visto apenas andando.
Com os anos, colocou na cabeça que correr não bastava mais para ele, agora precisava voar. Alugou um balão e se foi pelo mundo afora. Gritava, cantava, explodia de alegria. Falar também não bastava para ele. O Amor sempre precisava do mais.
Seus pais se orgulhavam muito, e a felicidade dos dois quadruplicou depois que ele foi ganhando mais e mais vida em frente aos seus olhos; faziam tudo pela felicidade do menino. E foi aí que o problema surgiu.
A criancinha que antes só trazia felicidade foi se tornando mimada, daquelas que tem tudo o que querem, sabe? E se tornam sem limites, sem escrúpulos e egocêntricas. Começou a dar trabalho.
Vou ser mais sincero aqui com vocês: ele era uma peste: gritava, corria, pulava, dançava, cantava, voava, mergulhava... Não dava sossego não! Sugava toda a vida dos seus pais.
Mas era tão lindo... Tão diferente dos outros, tão mais talentoso, sabe? Teria um futuro maravilhoso pela frente, com muito sucesso. Era brilhante! Inteligente, grandioso...
Mas, poxa, vida, como cansava!
Então os pais foram se desgastando ao invés de se aproximarem mais, foram brigando enquanto decidiam o futuro da vida de seu filho. Enfim, a decisão foi tomada.
A linda-hiperativa-superdotada-criança seria colocada para dormir profundamente, até o dia em que decidirem acordá-la e deixarem-na brilhar. 
Quando esse dia chegar, serão fortes o bastante para não deixarem mais seu brilho apagar. 

domingo, 5 de setembro de 2010

entre ganhos e perdas

Ganhei um dia esperando
Ganhei uma noite acordado


Ganhei o que não queria
Perdi quem queria ao meu lado


Ganhei estes versos singelos
Ganhei o que não me é caro


Perdi seu sorriso e seu rosto
Perdi o meu riso nervoso


Ganhei este karma, esta sina
Ganhei uma noite em meu dia


Gastei aqui muita tinta
Perdi sua dança macia


Me perdi enquanto sorria.