Tudo bem, então você me ensinou a ver e eu achei que a coisa mais legal do mundo havia acontecido. Bullshit. Não demorou muito pra eu perceber que havia coisas que estavam ai para não serem vistas, mas tudo bem, a gente aprende a lidar com isso.
O problema todo é que depois que eu aprendi a ver, eu vi que eu não vejo nada. Nunca vi. E era engano meu, amor, eu ainda não sei ver. O que mudou foi que vi um mundo que eu não estava acostumada a ver, e me deu a falsa ilusão de que aquilo era ver de verdade. Doce ilusão, bom seria se fosse. Quantos mundos ainda me restam para ver e eu me dou conta que talvez nunca consiga.
Mas agora eu quero. Eu quero enxergar porque eu sei que essa não é a realidade. Ou talvez seja simplesmente uma realidade que não me satisfaz mais. Porque, o que é enxergar, afinal? O que é ver? O que é a realidade? Me disseram que pensar era a única coisa que nos dava a certeza que existíamos. Eu discordo. Pensar é o que nos dar a ilusão de um “eu”, de uma falsa existência de individualidade. O conceito de espírito foi por água abaixo, agora nós somos apenas um aglomerado passageiro de energia. No meu caso, nem isso: um princípio inteligente visto nos seres mais primitivos. Movido por lei de atração, sensibilidade e instinto apenas.
E a consciência em si? Ah, amor, essa ai nunca existiu. Consciência em mim? Eu sou o caos. Não se tem ideia do caos quando se está nele. Não, eu não sei o que o meu corpo abriga. Talvez eu nunca descubra.
Mas uma coisa eu ainda sou capaz de saber: eu sei o que move meu corpo. Eu sei as vontades que movem seja lá o que for que existe aqui dentro de mim. Ou que não existe. Vontades aquelas que aprendemos que devemos nos libertar por completo. Liberdade. Sim, eu quero ser livre, mas a minha vontade de ser livre é tão avassaladora, que me acorrenta, porque jamais se é livre quando se tem desejos. Estou presa pelos meus impulsos decorrentes dessa vontade de ser livre. Entende como é complicado tudo isso? Dá pra ter ideia do caos que tá aqui dentro? Eu ando tão Down. Isso que me cerca já não me basta, eu quero transcender, eu quero transgredir, eu quero o mais, eu quero me perder pra me achar, me cegar pra poder ver. Mas ao mesmo tempo: e o medo que tudo isso dá? E tudo que fica pra trás? E o ir e não voltar?
Antes eu tinha uma base sólida, em cima da qual eu construi todos os meus ideais, meus princípios, meus valores, minhas virtudes. E de repente toda essa base sólida foi destruida fazendo tudo o que estava em cima se perder. Farsa. E todas as pessoas que se apaixonaram por mim por quem eu era? Pelo que eu fazia, pelo que eu pensava? Eu não sou mais nada disso. Eu não sou nada. Eu não sou. E no momento que eu deixo de ser, o resto deixa de estar também.
Nada mais é, e a única coisa que nos resta é o caos.
Foda-se, que diferença isso faz pra você?