terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O trânsito e Seu João

Hoje o dia parecia diferente para Seu João. O céu estava cinza, assim como seus olhos, seus cabelos, sua pele e sua vida. Em dias cinzas as horas passam em camera lenta, é o que deve ter pensado João.
Seu João já estava trabalhando às seis horas da manhã quando pensou em sua filha. Quais seriam a cor de seus olhos? Ele não poderia dizer. Mal tinha memórias pra recordar enquanto dirigia.
Acredite se quiser, mas um dia Seu João também já foi feliz. Um dia ele já teve sonhos!
Dizia ele, "quando eu crescer quero ser jogador de futebol". E não é que Seu João tinha talento? 
Claro que ter talento fica em segundo plano quando se tem uma família pra sustentar: Seu João era o próprio estereótipo do trabalhador humilde brasileiro até no nome.
Só que não hoje.
Hoje Seu João já tinha se esgotado da vida, já tinha esvaído de seu corpo.
Nesse momento Seu João não suportava mais dirigir para pessoas que não se incomodavam em dizer "bom dia" ou "obrigado". Essas mesmas pessoas que não demoravam um instante para perguntar "passa lá na rua 12?", "me avisa quando tiver na 14?". E claro que Seu João sempre avisava.
Até hoje.
O ponto é: não eram essas pessoas que controlavam a vida de Seu João. Na realidade, Seu João estava  bem confiante de que o fundamental aqui era ele. Afinal, ele tinha a vida de todas essas pessoas nas mãos, em suas mãos. E ninguém parecia se dar conta disso.
Alguém buzinou para Seu João às seis e meia da manhã o alertando que o trânsito havia voltado a andar depois de trinta minutos de espera. Ele já tinha esperado demais. Seu João deu seta e virou à esquerda. Aquela rua não fazia parte de sua rota, mas ele não queria mais seguir rotas por hoje. 
No final da manhã, uma notícia provou a todos que Seu João estava certo. 
"Caminhão que carregava líquido inflamável colide nessa manhã com ônibus que tinha se desviado de sua rota. Todos os envolvidos foram mortos em uma grande explosão. Os motorista dos dois veículos foram identificados como 'Seu João'".

domingo, 12 de fevereiro de 2012

MÄN SOM HATAR KVINNOR

Fico imaginando o que poderá ter acontecido em seu passado que te transformou no que é agora... Começo a me perguntar se eu estaria ao seu lado se conhecesse sua história palavra por palavra.
Enxergo que nada mudaria então, pois eu já te vejo como você é, e já te via desde a primeira vez que nos vimos, antes mesmo de nos falarmos.

(I do know your history word-for-word, somehow.)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Hideki,

Já perdi a noção do tempo desde que comecei a tentar traduzir os raios que emanam do seu sol para esse pedaço de papel.

Insisto na ideia de desenhar os dois universos que moram no seu rosto. (se me utilizasse de uma máquina, esta não seria capaz de compreender a grandeza daquilo que se encontra a sua frente). Nos meus devaneios não vejo apenas suas constelações, mas sinto o cheiro das flores de jasmin e escuto os carcarás gritando. Queria conseguir uma grande planeta e chamá-lo de Meu, Grande Planeta Meu. Dentro dele morariam os beija-flores, bem-te-vi, carcarás e um buquê de flores. (as flores só serviriam para enfeitar nosso céu, pois você seria a fragância no Meu Mundo). Escolho agora a melodia que quero que a chuva toque ao se derramar no solo e me lembro do dia em que te vi sorrir - uma estrela saiu do seu sorriso e se apresentou pra mim - disse que se chamava Música.

Minha tentativa é vã, seguro em minhas mãos nada além de uma mancha amarela que só na música de Toquinho pode virar Sol.