terça-feira, 9 de novembro de 2010

Os Medos

As vezes eu tenho medos.
As vezes eu tenho o medo-do-grito, que me faz berrar, bem alto e lá do fundo, até sentir a garganta doer. Mas outras vezes eu tenho outro tipo de medo, o medo-do-silêncio. O medo que procura o quieto, o ficar no escuro, abraçando as perninhas, tentando ocupar o menor espaço possível, as vezes girando de um lado pro outro, as vezes parado, apenas vendo todo o resto girar. 
Algumas vezes eu tenho o medo-do-acordado, que é o medo de ir dormir, dos pesadelos que podem aparecer nos meus sonhos, recriando sem parar minhas piores lembranças, meus maiores temores... Outras vezes eu tenho o medo-do-sono. Medo de encarar a realidade depois de ter vivido a noite inteira a suprema felicidade. E então vivo um medo que me desliga do mundo, me faz viver outra realidade. Porque existe o medo do real e o medo do imaginário e um procura sua cura no outro. Tem o medo-do-choro e tem o medo-do-seco, quando as lágrimas se perdem em algum lugar dentro de você e ficam presas la dentro.
As vezes eu também tenho o medo-do-abraço, que me faz abraçar meus amigos tão forte e tão prolongadamente que eles até sufocam. É o medo do abraçá-los e ficar assim, sem soltar. Dormir e acordar abraçadinho neles. É meu medo de ficar só, o medo da necessidade daqueles que me amam. Esse tipo de medo é bem melhor do que o medo-do-isolamento. O medo que faz a gente jogar tudo pro alto, afastar tudo pra longe, até as pessoas que amamos. Faz a gente derramar nosso medo sobre os outros pra ver se nos livramos dele, mas não conseguimos. Fazemos as pessoas se livrarem da gente. Esse medo é bem perigoso, faço as pessoas irem pra bem longe de mim, assim penso que não posso fazer nada de errado com eles, nada que vá fazê-los ir embora deliberadamente. Pena que eu não enxergo que esse medo já os fazem ir embora dessa forma.
Tem o medo-do-mentir e o medo-da-sinceridade, que faz a gente fala até a parte desnecessária da verdade.
Medo é coisa de louco, medo mexe comigo. Medo controla tudo o que sou, se ele quiser