segunda-feira, 23 de abril de 2012

Q,

Eu não sei dizer exatamente de onde começa a sensação. Algumas vezes dá a impressão que começou com um arrepio gelado que nasceu na minha espinha. Outras que começou mesmo na ponta do estômago amargo. Seja lá de onde surja, tudo acontece muito rápido e simultaneamente à petrificação do meu coração. 
É tudo bem gelado. Gelado, duro, cortante... Dilacerante. Nesses momentos eu sinto um anseio louco de expelir meu coração pra fora de mim, a fim de duas coisas. A primeira delas é o sentimento de auto-preservação - aquele que a gente sente quando tem medo de morrer. No meu caso é morrer de hipotermia. Medo do gelo do meu coração espalhar muito rapidamente pro restante vivo de mim e da minha espinha padecer, dos meus órgãos falharem. Numa tentativa de voltar a sentir qualquer centelha de calor tento expurgar meu coração, mas as tentativas se mostraram vãs. Outro motivo muito forte que me faz querer rasgar meu próprio peito é o desejo de te presentear com meu coração petrificado. Te encontrar e dizer: toma! Tá vendo essa alma congelada? Vê esse coração que cessou de bater, essas veias que secaram? Esse corpo que nenhuma gota de sangue corre? Toma tudo e guarda, fica, esconde, leva pra longe de mim. 
Esconde de mim esse gelo porque agora eu só quero sentir calor.



(Eu queria dizer que não. Não, eu não quero que um belo dia quando você estiver caminhando apareça uma pedra no seu caminho e você tropece, caia e bata a cabeça. Não, eu não quero que ao bater a cabeça você sinta uma dor tão forte, mas tão forte, que te torne incapaz de viver um único dia sem se lembrar da dor. Isso só serve pra ilustrar o que eu sinto e não consigo esquecer. Não, eu não consigo esquecer e sua presença não consegue parar de me fazer lembrar. Na realidade, eu só queria que você sumisse, desaparecesse e levasse consigo essa dor. Só queria me libertar desse frio na espinha e voltar a sentir calor. Me livrar do nó de lágrimas na garganta, da explosão que transborda pelos olhos. Tudo aquilo que me fez enxergar que eu sou muito humana, ao contrário de você que é feito de metal.)

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