
Derrama-se em lágrimas até exaurir-se, até não ter mais fôlego ou energia (o que significa MUITO para robôs-hiperativos-malucos-viciados-em-toddynho). Só para-se de chorar quando se adormece em meio ao cansaço afogando-se na poça de lágrimas.
Então acorda, e volta a chorar.
Normalmente se esquece porque estava chorando e porque ainda continua o fazendo, mas independente de se lembrar ou não, sabe que não pode parar de chorar.
E essa noite a criancinha sou eu. E eu não vou parar de chorar.
Nem se eu quisesse eu conseguiria, pois são lágrimas há muito armazenadas em mim. Lágrimas que um potinho de Sertralina me impediu de soltá-las, mas que hoje foram mais fortes que a medicina.
Eu estou farda, e esse é o meu pedido de arrego.
Arrego. Não sei se essa palavra tem o mesmo sentido em todo o Brasil, mas com 5 anos e morando na Paraíba, eu peço arrego e essa é minha bandeira branca.
Tô pedindo arrego dos meus pensamentos, que não me deixam em paz. Arrego dos meus pesadelos repetitivos, nem que seja só por uma noite.
Não quero mais a lembrança dos cheiros, não quero mais as memórias regressivas, os sons recorrentes das músicas, as palavras de sangue ressoando em minha orelha, a verdade que estraçalha. Não quero mais ver. Não quero mais ouvir. Não quero mais sentir.
Não quero mais ser.
Ou eu também poderia pedir por continuar sendo. Mas em paz, com espírito de criancinha dormindo depois de um dia de brincadeiras cansativas, com um sorriso no rosto e silêncio no pensamento. E uma noite sem sonhos.
Só que ai eu seria esse vazio. Esse vazio de você. Pois acabar com tudo isso seria acabar com a única coisa que me resta de você.
E ser, sem você, não é uma opção.
Nem que para isso eu tenha que aprender a conviver com os monstros-do-armário.